15/01/2012

Ah, Vida Real...



Cai a noite sobre a minha indecisão
Sobrevoa o inferno minha timidez
Um telefonema bastaria
Passaria a limpo a vida inteira
Cai a noite sem explicação
Sem fazer a ligação
Na hora da canção em que eles dizem "baby"
Eu não soube o que dizer
Ah...vida real!
Esperei chegar a hora certa
Por acreditar que ela viria

Deixei no ar a porta aberta
No final de cada dia
Cai a noite doce escuridão
De madura vai ao chão
Na hora da canção em que eles dizem "baby"
Eu não soube o que dizer
Ah...vida real!
Como é que eu troco de canal?
Na hora da canção em que eles dizem "baby"
Eu não soube o que dizer
Ah...vida real!
Tchau!

13/01/2012

Hipérbole

Faz tempo que não vejo uma amiga. Amiga? Ok! Colega... Faz tempo que não vejo uma colega e resolvi chamá-la para visitar-me. O nome dela? Todos a conhecem! Todos a desejam! É famosa, é querida, é indefinível. Ah, sim, o nome dela: felicidade. Resolvi chamá-la para conversarmos, pois há algum tempo ela está sumida. Sinto falta dela. (Campainha toca).
- Oi, querida! Quanto tempo, não? Entre, entre. Fique à vontade. Sente-se.
- Olá! Devo-lhe informar que só vim porque insististe demais. Sabes que sou muito ocupada, não é? Mas, tudo bem. Quis vir. E cá estou. O que desejas?
- Não desejo algo ou alguma coisa. Na verdade, faz tempo que o que eu desejo não faz tanto sentido.
- Então chamaste-me para que, posso saber?
- Gostaria de fazer-lhe uma pergunta. Apenas, isso.
- Pois, faça!
- Por que és rápida?
- Como assim? Explique-me melhor. Seja mais direto.
- Tudo bem, vou reformular! Por que em minha vida demoras e quando aparaces és tão veloz que chego nem a sentir-te? Ou quando apareces e ficas por algum tempo, estranho tua presença e não me sinto bem, tenho medo?
- Bem, é um questiomento sensato esse seu. Talvez, seja porque queiras-me demasiadamente e não posso oferecer-te a intensidade que almejas.
- Então, devo ser infeliz?
- Não exagere! Cada um carrega em si, um conceito de mim. Sou o sentimento mais pessoal e sem explicação que vaga por esse vasto Universo. Veja só!
- Mas, o que eu desejo é tão simples... Não é dinheiro, nem sucesso, luxo...
- Engana-te pensar assim. Essas coisas são as mais fáceis. Sou repetida nelas exaustivamente! Sinto-me sem valor. Sofro por 90% dos que me querem, quererem os clichês da vida. Mas, diga-me, o que desejas?
- Um Amor.
Pausa dramática.
- Estou exausto.
- Exausto de que? Fale!
- Exausto de rupturas! De tudo estar indo bem e num instante, tudo fenecer. Lentamente... Dolorosamente... Gostaria que ficasses por mais tempo, que eu não tivesse medo de ti, do que há de acontecer depois de tanto brilhos nos olhos, alma leve e sorriso no rosto. Isso dói. Não imaginas o quanto.
- Não sei o que responder-te sinceramente. Eu mesmo não sei de mim. Sou 1 para 7 bilhões. Gostaria de ajudar-te, não posso. Isso tudo pertence a ti, não posso interferir. Não é minha função. Se sou rápida ou lenta, depende de outros tantos fatores, que desconheço, que não cabe a mim, nem a ti saber. A vida é assim.
- Vida, vida... Palavra estranha, não? Forte. Efêmera. Deslizante.
- Tenho conhecimento de tua situação. Um amigo meu pode ajudar-te. Conheces muito bem! O nome dele é tempo.
- Sim, o conheço.
- Ele pode ajudar-te a encontrar forças de onde menos esperas, de ti mesmo. Recolhe-te! Precisas de ti. Pare de tentar achar em outras pessoas resoluções do seu problema. És o teu melhor abrigo. Conheces-te melhor que ninguém. Ajuda-te.
- É tens razão... Encontro-me tão só que até esqueço de mim, que dou a minha função a outrem.
- É o único conselho que posso dar-te. Olha a hora! Estou atrasada. Tenho de ir. Cuide-se bem. Perigos há por toda parte, e é bem delicado viver de uma forma ou de outra. Não há saída.
- Vou levá-la até à porta.
- Adeus, volte sempre.
- Espero voltar logo, mas não como visita. Quero ser sentida! Arrepiar a pele. Abraçar o horizonte. Gritar silenciosamente por dentro do corpo.
- Que assim seja.

11/01/2012

Oração ao Tempo



És um senhor tão bonito
Quanto a cara do meu filho
Tempo tempo tempo tempo
Vou te fazer um pedido
Tempo tempo tempo tempo...
Compositor de destinos
Tambor de todos os ritmos
Tempo tempo tempo tempo
Entro num acordo contigo
Tempo tempo tempo tempo...
Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
Tempo tempo tempo tempo
És um dos deuses mais lindos
Tempo tempo tempo tempo...
Que sejas ainda mais vivo
No som do meu estribilho
Tempo tempo tempo tempo
Ouve bem o que te digo
Tempo tempo tempo tempo...
Peço-te o prazer legítimo
E o movimento preciso
Tempo tempo tempo tempo
Quando o tempo for propício
Tempo tempo tempo tempo...
De modo que o meu espírito
Ganhe um brilho definido
Tempo tempo tempo tempo
E eu espalhe benefícios
Tempo tempo tempo tempo...
O que usaremos pra isso
Fica guardado em sigilo
Tempo tempo tempo tempo
Apenas contigo e comigo
Tempo tempo tempo tempo...
E quando eu tiver saído
Para fora do teu círculo
Tempo tempo tempo tempo
Não serei nem terás sido
Tempo tempo tempo tempo...
Ainda assim acredito
Ser possível reunirmo-nos
Tempo tempo tempo tempo
Num outro nível de vínculo
Tempo tempo tempo tempo...
Portanto peço-te aquilo
E te ofereço elogios
Tempo tempo tempo tempo
Nas rimas do meu estilo
Tempo tempo tempo tempo...

Sou grato a Caetano por uma letra tão linda e tão propícia. 
Dando tempo ao tempo, tempo, tempo, tempo...

09/01/2012

Me recolho para me poupar. De que? Nem eu mesmo sei. Mas, preciso de um tempo só meu. Quero poucas palavras. Poucos gestos. Ninguém. Só a mim. Exclusivamente. Sentar-me. Esperar a madrugada, as lágrimas silenciosas. Gritos surdos. Secura. Cansaço. Estou cansado. Meu corpo, mente, alma pedem recesso, calmaria, paz. Vou me deitar. Até "logo"- esse logo é que me assusta.

01/01/2012

Love. Poetry. Beer.

Nesse ano teremos enxaquecas intensas ao entardecer. O trânsito borrará nossas bocas e uma gripe nos acompanhará por uma semana, talvez duas. Uma topada encontrará nossos pés e um "caralho" sairá de nossos lábios. Ficaremos, algumas vezes,  indignados, mas sempre perplexos com os nossos governantes e as esquinas em que desfilam a subcutânea situação do homem. No cinema haverá adolescentes que não lêem dicionários. No banco, filas sem respeito mútuo. Torceremos por um feriado. Contaremos os dias para sexta-feira e os minutos para o expediente terminar. Nesse ano nem tudo dará certo, nem todos os afetos serão correspondidos. A raiva tingirá nossos rostos por um momento e, no outro, as decepções cairão sob os pés. Em outros a felicidade de uma conquista estará personificada em gestos, em um sorriso. Gritos. Gemidos. Prazer. Orgasmo. Tudo com aquele cheirinho de livro recém comprado, de um champagne recém aberto. Cheiro de novo. Que tenhamos o prazer de viver tudo (de) novo. Cada momento tornando-o único. Sem medo. Dando a cara à tapa. Irmanemo-nos. Celebremos. Olá, 2012! Como gostaria de seu café? Sente-se aí no sofá, já eu trago. Fique à vontade. A casa é toda sua.