13/01/2012

Hipérbole

Faz tempo que não vejo uma amiga. Amiga? Ok! Colega... Faz tempo que não vejo uma colega e resolvi chamá-la para visitar-me. O nome dela? Todos a conhecem! Todos a desejam! É famosa, é querida, é indefinível. Ah, sim, o nome dela: felicidade. Resolvi chamá-la para conversarmos, pois há algum tempo ela está sumida. Sinto falta dela. (Campainha toca).
- Oi, querida! Quanto tempo, não? Entre, entre. Fique à vontade. Sente-se.
- Olá! Devo-lhe informar que só vim porque insististe demais. Sabes que sou muito ocupada, não é? Mas, tudo bem. Quis vir. E cá estou. O que desejas?
- Não desejo algo ou alguma coisa. Na verdade, faz tempo que o que eu desejo não faz tanto sentido.
- Então chamaste-me para que, posso saber?
- Gostaria de fazer-lhe uma pergunta. Apenas, isso.
- Pois, faça!
- Por que és rápida?
- Como assim? Explique-me melhor. Seja mais direto.
- Tudo bem, vou reformular! Por que em minha vida demoras e quando aparaces és tão veloz que chego nem a sentir-te? Ou quando apareces e ficas por algum tempo, estranho tua presença e não me sinto bem, tenho medo?
- Bem, é um questiomento sensato esse seu. Talvez, seja porque queiras-me demasiadamente e não posso oferecer-te a intensidade que almejas.
- Então, devo ser infeliz?
- Não exagere! Cada um carrega em si, um conceito de mim. Sou o sentimento mais pessoal e sem explicação que vaga por esse vasto Universo. Veja só!
- Mas, o que eu desejo é tão simples... Não é dinheiro, nem sucesso, luxo...
- Engana-te pensar assim. Essas coisas são as mais fáceis. Sou repetida nelas exaustivamente! Sinto-me sem valor. Sofro por 90% dos que me querem, quererem os clichês da vida. Mas, diga-me, o que desejas?
- Um Amor.
Pausa dramática.
- Estou exausto.
- Exausto de que? Fale!
- Exausto de rupturas! De tudo estar indo bem e num instante, tudo fenecer. Lentamente... Dolorosamente... Gostaria que ficasses por mais tempo, que eu não tivesse medo de ti, do que há de acontecer depois de tanto brilhos nos olhos, alma leve e sorriso no rosto. Isso dói. Não imaginas o quanto.
- Não sei o que responder-te sinceramente. Eu mesmo não sei de mim. Sou 1 para 7 bilhões. Gostaria de ajudar-te, não posso. Isso tudo pertence a ti, não posso interferir. Não é minha função. Se sou rápida ou lenta, depende de outros tantos fatores, que desconheço, que não cabe a mim, nem a ti saber. A vida é assim.
- Vida, vida... Palavra estranha, não? Forte. Efêmera. Deslizante.
- Tenho conhecimento de tua situação. Um amigo meu pode ajudar-te. Conheces muito bem! O nome dele é tempo.
- Sim, o conheço.
- Ele pode ajudar-te a encontrar forças de onde menos esperas, de ti mesmo. Recolhe-te! Precisas de ti. Pare de tentar achar em outras pessoas resoluções do seu problema. És o teu melhor abrigo. Conheces-te melhor que ninguém. Ajuda-te.
- É tens razão... Encontro-me tão só que até esqueço de mim, que dou a minha função a outrem.
- É o único conselho que posso dar-te. Olha a hora! Estou atrasada. Tenho de ir. Cuide-se bem. Perigos há por toda parte, e é bem delicado viver de uma forma ou de outra. Não há saída.
- Vou levá-la até à porta.
- Adeus, volte sempre.
- Espero voltar logo, mas não como visita. Quero ser sentida! Arrepiar a pele. Abraçar o horizonte. Gritar silenciosamente por dentro do corpo.
- Que assim seja.