Levei a minha irmã ao parquinho semana passada. Uma coisa banal, não? Que passa despercebida. Mas, depois de algum tempo sentado esperando o tempo passar, refleti a respeito do que estava diante de mim. Bateu uma saudade. Ao assistir todas aquelas crianças: rindo, brincando, gritando, se sujando, percebi o quanto a infância me faz falta, o quanto ter 4, 5, 6 anos é nostálgico. Cada um de nós é o que é, pela infância. Tudo o que somos, o que pensamos, o que queremos é construído nessa etapa da vida. Elaboramos um "nós". A infância é o chão sobre o qual caminharemos o resto dos nossos dias. Se for esburacado demais tropeçaremos mais, iremos cair com menos dificuldade e quebraremos a nossa cara - o que pode até ser benéfico, pois nos dará um leque de chances para reconstruirmos nossa face, quem sabe até uma face mais autêntica, mais nossa, sem necessitar de detalhes alheios. Todos os contornos do nosso eu são compostos nessa etapa e são eles que proporcionam a nós o tamanho de nossas ampliações e limitações. Como escutamos a frase: "criança não pensa", não é? Criança pensa! E, faz algo mais importante que quando amadurecemos, esquecemos: ela é. Admirando uma mancha na parede, um sujo em suas mãos, um inseto na grama, uma rosa no jardim, ela é tudo isso que repara. Da mesma intensidade que ela é a frieza e indiferença dos adultos, assim como o amor verdadeiro. A criança tem algo mais válido que a consciência, do que o anjinho e o diabinho, ela obtém o saber inocente. Perdemos essa sabedoria da inocência na medida em que vamos crescendo em altura e conhecimento, e assim nos encaixamos em outra realidade. Triste o fato de atingirmos a idade em que tudo se complica, parece sem novidade, olhamos pra uma flor, céu, sol, chuva: corriqueiros. Triste também pensar que a realidade bate a nossa porta todo dia, exigindo que estejamos de pé às 6h para estudar, trabalhar, engolir o café da manhã. Responsabilidades fazem de nós quem somos, o que - na maioria das vezes - queremos. Fazem de nós animais selvagens. Não é culpa dos outros se somos incompletos. Em cada estágio pode-se colocar um traço, algum ponto, uma cor no projeto que pretendemos ser. Somos tudo isso. Construído na infância. Aperfeiçoado na maturidade.
