silêncio dos olhos confessamos?" (José Saramago)
De repente, tudo pára. Não ouço nada. Sinto-me só. Mas, não estou. Estou comigo, por isso não estou só. Sempre ando comigo por onde for. Tudo parece tão pequeno. Porém, não me sinto grande. Tudo, tudo emudece. Ouvir o silêncio... Pode parecer inconveniência minha essa afirmação, mas não é. Eu ouço o silêncio, e é ensurdecedor dentro de mim, o seu som. Automaticamente, uma parte de mim procura lembranças de quando havia outros sons, além do silêncio. Neste nosso mundinho barulhento, nos acostumamos aos berros e aos sons que nos ensurdecem, e muitas vezes diante de tudo ao nosso redor nos viciamos em terapias que miram exclusivamente à catarse. Então por um instante realiza. O silêncio decai e percebemos. O silêncio curativo de simplesmente, ser. Tão atraente... Tão singular. Ao mesmo tempo tão fino e raro... Quando nossas mentes não conseguem mais perceber, o silêncio vem como divisor de águas, para vermos o que é proveitoso e o que não é. Para sentirmos mais o que necessitamos dar atenção e ao que não precisamos. Acontece sem a gente sentir em nossa pele ou meramente planejar... Ficar em silêncio tem sido um prazer! Não há terapia que se compare ao silêncio. E não há em nosso universo nenhum tipo de terapia que nos faz sentirmos mais em casa, do que o ato de calar. Vamos dar mais atenção ao silêncio, mesmo quando estivermos com alguém, mesmo quando estivermos numa multidão. Sabemos que mesmo em uma multidão, o silêncio fala mais alto que qualquer grito vindo do órgão boca. Sabemos que o maior grito que pode dar existe e, é o vindo dos olhos. Esse grito vem do âmago. Só você que grita sem alguém perceber, sabe o tamanho e a nascente deste grito. Nascemos do silêncio. Pois, só choramos após sermos retirados do leito da vida. Morreremos ao silêncio, desse tipo ninguém escapa. Existimos entre silêncios. O silêncio tem sido o começo e o fim. Constantemente.
Silenciar...
Emudecer...
Calar...
Silenciar...
Emudecer...
Calar...
