Vieste como um sonho bom, mesmo. Na verdade, não sabes, nem vais entender, mas sempre, te quis. Nos meus sonhos sempre estavas presente. Sempre te desejei. Vieste quando minhas esperanças de ter uma irmã estavam jogadas de lado. Pensava: “já é tarde demais” Grande engano! Quando chegaste, me assustei. Eras algo novo. Não sabia o que fazer como te cuidar, abraçar, te dar carinho, te amar, me senti sem direção. Fui.Consegui. Vieste em um momento que mais precisava de você – por mais estranho que possa parecer. A hora era aquela! Precisava dar a alguém tudo de bom que eu tinha guardado em mim. Te entreguei e me entreguei a um novo amor. Um amor doce, puro, verdadeiro... de irmão.

Hoje te vejo de forma diferente, não queria, nunca quis. Te vejo crescer ao meu redor. Vejo que aquele neném, aquele bebê, está se tornando uma criança, sem pedir minha “permissão”. És a metáfora do tempo diante de mim, e por mais que eu nunca quisesse perceber, está ocorrendo. Não posso fechar os olhos. Antes, te via engatinhar pela casa toda, sujando todo o joelho deixando preto e arranhado. Tentavas te equilibrar em tudo que podia e, eu ali pra te segurar. Hoje andas só, vais onde queres. Não precisas mais, tanto de mim. Sabes por onde queres pisar, não sujas mais os joelhos, sujas os pés, teus pés, que podes lavar por conta própria. Antes, balbuciavas palavras, chegavas até a te babar toda, tentavas falar, mas só saiam sons estranhos, mistura de “bá, fá, lá, cá, dê, etc..” dialogavas comigo com essas tentativas... eu entedia. Hoje, já falas. Tens esse poder e sabes usar bem. És decidida: “não quero, não vou, quero agora.” Não precisas de um intérprete como já fui eu, um dia. Antes, era meu colo o nosso principal elo, te colocava perto de mim já prometendo que nada e ninguém fariam algo de mal a ti. Porque, estavas ali comigo. Em meus braços, sob minha proteção. Hoje, minha proteção tens, claro. Mas, de outra forma. Não te coloco no colo, porque pesas. Me causas dor física. Não tens mais aqueles singelos quilos que já tiveste um dia e que te carregava apenas com um braço. Nosso elo hoje é as mãos. Transmito a ti minha proteção segurando-as. Te guiando sempre aonde fores. Antes, me tinhas como único amigo, o exemplo de tudo que vias e ouvias. Eu era teu espelho. Hoje, tens pessoas diferentes em tua vida, tens amigos. Pessoas diferentes, jeitos diferentes, espíritos diferentes. Te ver indo à escola me entristece. É uma tristeza momentânea. Saudosista. Consigo entender, que o tempo passa para todos e que a tua hora chegou, porém pensar que daqui a pouco já vais estar com 10, depois 15... me entristece. Compreendo que nunca foste minha. Não és digna de ser minha, não és minha posse, és minha irmã. Posso ter confundido os sentimentos. Exagerei. És um presente de Deus. Ele quis que viesses na tua hora, na hora certa. És cheia de luz, de graça. E, a ti entrego meu amor mais sublime. Por mais que anos e anos se passem. Foste feita para a (minha) vida.

"Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?" E te amando sigo... até onde? Onde a Fé na fantasiosa esperança permitirá crer que a vida é contínua e infinita “ (Fernando Pessoa)