14/04/2011

Direções


ENCRUZILHADA

Estamos sempre na encruzilhada.
Cada dia é vários caminhos
Possíveis. Cada hora é mais que uma estrada.
Nós, os sozinhos
De nada,

Nem escolhemos, nem queremos:
Vamos…
E, seja a via pelo areal que vemos
Ou na floresta pela qual andamos,
Vamos para onde não sabemos,
E não sabemos onde estamos.

E a cada hora, a cada hora,
Há que virar para a direita ou esquerda
Segundo uma lei que se ignora
Ou um impulso cujo instinto se não herda.

Sempre tantos caminhos!
E nós, sem tempo para os escolher, 
Apressados, ignaros e sozinhos,
Tomamos o que tem que ser.

Se é bom, se é mau o por onde ir,
Ninguém o sabe ou saberá…
Tudo é não saber e seguir:
O resto Deus dará, ou não dará.

(Fernando Pessoa)


Diante de tantas escolhas. De tantos problemas a serem resolvidos. Uma hora a cabeça pesa. Paro. Questões chegam rapidamente a mim. Respostas demoram. Questões feitas por mim que não vejo respostas: O que fazer? Onde estou? Que caminho seguir? Diversas vezes penso e de tanto pensar, não ajo. Porém, em outras, simplesmente: vou. O incerto me estimula, a viver. Pois, pra quê serve ter tanta certeza das coisas? Às vezes preciso só ir em frente. Arriscar. Não se pode repudiar, mas também é evidente, se isso me serve de conforto, que se antes de cada passo me pusesse a adivinhar todas as conseqüências dele. A refletir nelas a sério, primeiro as instantâneas, depois as prováveis, depois as imagináveis, não chegaria sequer a me mexer de onde a primeira reflexão me tivesse feito parar. Os ‘bons’ e ‘maus’ resultados dos meus ditos e construções vão se distribuindo ao longo da estrada, supõe-se que de uma forma constante e equilibrada, por todos os dias do futuro, incluindo aqueles, sem fim, em que já não estarei para poder comprová-lo, para congratular ou pedir perdão.